Superação

Luto materno: uma das maiores dores do mundo também precisa ser superada

Os especialistas em psicologia não costumam tentar mensurar a dor do próximo, mas existe uma opinião quase unânime entre muitos deles: o luto materno pode ser considerado uma das maiores dores do mundo. Entre as várias questões que envolvem essa ruptura está o fato de a mãe, diante da visão imposta pela sociedade, exercer o papel fundamental de cuidar e proteger o filho. Com a perda, o sentimento de fracasso nessas funções se sobressai.

 

Outro fator importante diz respeito ao ciclo vital que se estuda ainda na escola. Nele, as pessoas nascem, crescem, reproduzem, envelhecem e morrem. Isso torna a perda de um filho ainda mais dolorosa, já que fica impregnado o dever de se seguir essa regra. “Quando acontece a morte de um filho, é como se esse ciclo se quebrasse, o que acaba justificando, também, essa questão da intensidade do luto, mas é preciso esclarecer que esse chamado ciclo vital não é uma regra. A gente espera que vai chegar até o fim da vida, mas não há uma certeza absoluta sobre isso. Ele não é rígido e pode se inverter”, ressalta a psicóloga especialista em luto do Grupo Morada, Mariana Simonetti.

A especialista lembra que com a “quebra” desse ciclo, a mãe passa a não enxergar mais o sentido da vida, principalmente para aquelas que perderam seu único filho. “Mas é preciso que elas entendam que não deixaram de ser mães. Com a perda, surge um ressignificação do seu papel e o sentido da vida precisa ser reconstruído. Elas precisam se permitir estarem felizes novamente e sorrirem, mesmo sem ter aquele pedaço delas ali”, afirma Simonetti.

Não é um papel fácil, lembra a psicóloga. O luto é singular para cada mãe. Apesar de ser intenso, não vai ser toda mãe que vai responder da mesma forma à perda de um filho, vai depender de muitos outros fatores, como a idade do filho ou a forma como aconteceu a morte. Mas é certo que a superação passa, e muito, pelo reconhecimento da dor. “O primeiro passo para superar é reconhecer que, de fato, a saudade vai ser grande e que o sofrimento vai existir”.

 

Ainda dentro da superação, procurar ajuda em grupos de apoio também é uma alternativa para aliviar a dor. Além disso, familiares e amigos se tornam aliados nesse período. Muitos evitam tocar no assunto próximo às mães, mas a especialista do Grupo Morada dá outra orientação. “É importante abrir espaço para falar sobre o assunto, até porque muitas vezes a mãe sofre mais em não falar, achando que as pessoas esqueceram do filho, e ela se sente na responsabilidade de manter a memória sempre viva”.

Simonetti lembra que não é necessário insistir, mas também não é preciso omitir o assunto. “O importante é estar presente de uma forma que elas se sintam à vontade para falar”, acrescenta. A especialista finaliza afirmando que o vínculo construído pode ser ressignificado, ele não precisa ser desconstruído. “Aquela mãe vai ser mãe daquele filho sempre, a lembrança do filho vai estar sempre naquela mãe e é importante que ela tenha tranquilidade em relação a isso e a segurança de que não vai esquecer, apenas dar um novo sentido a esse vínculo e aprender a ver o filho de uma forma diferente”, aconselha.

 

 

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