Como lidar com a dor de perder alguém
Dentre tantos significados que podemos pensar na questão do viver, um que se destaca é a questão da formação de vínculos. Vivemos sempre formando vínculos com as coisas, com as situações, com as pessoas. É comum termos ciúmes de algum objeto que significa tanto para nós; nos apegamos facilmente à nossa casa, ao nosso emprego; e, de forma ainda mais intensa, nos apegamos às pessoas que passam pela nossa vida ou que a vivem junto conosco.
Acontece que, no decorrer da vida, alguns desses vínculos formados se rompem e acabamos por vivenciar experiências de perda. Vivenciamos lutos quase que diários. Com frequência perdemos nossos objetos especiais, passamos pela experiência de perder aquele emprego que gostávamos, ou simplesmente que estávamos acostumados com ele, nos separamos dos nossos maridos/esposas, nossos amigos vão morar fora, nossos filhos saem de casa. E também nossos entes queridos morrem.
A psicóloga do Grupo Morada, Mariana Simonetti conta que focando agora na morte, quando isso acontece, é natural que fiquemos tristes, que de alguma forma paremos para reorganizar a nossa vida que sofre grandes transformações. Mas que é preciso aprender a lidar com a ausência do outro em nossa vida, e quando estamos nesse processo de ressignificar a tal quebra de vínculo, dizemos que estamos enlutados.
“Autores falavam em fases do luto, escreviam sobre o tempo que essa fase de ‘enlutamento’ poderia durar antes de se tornar ‘luto patológico’, mas hoje é quase unanimidade se falar no luto como um processo único e singular, que vai variar em modo e tempo, de indivíduo para indivíduo”, fala Simonetti.
Apesar do caráter singular de vivência de cada pessoa enlutada, sabe-se que atravessar o período de luto é uma experiência, em geral, difícil. É comum que as pessoas se sintam sozinhas diante da dor da perda e da ausência do ente querido. O que sentimos nesses momentos? Digamos que acontece um turbilhão de sensações que variam da negação, raiva, passando pela tristeza até chegar na aceitação.
“Não adianta procurar em manuais com que tempo vai acontecer o que, o que é normal ou deixa de ser. O luto pertence a nós e a mais ninguém, é único, e uma das poucas certezas que temos com relação a ele, é que todos vamos precisar lidar com ele algum dia”, destaca a psicóloga.
Ainda de acordo com Mariana, quando o luto chega, é importante aceitá-lo, permitir-se sentir e mergulhar nele de uma forma que sejamos verdadeiros com nós mesmos, para que mais tarde possamos arranjar forças para recomeçar. Mergulhar nesse universo de perda para depois emergir com mais energia para a vida vai depender de nós, mesmo que precisemos buscar ajuda para isso. “Quando perdemos alguém, estamos presenciando um ciclo que se fechou. Quanto ao nosso… Esse ainda está em curso, e precisa de nós”, completa.