Como conversar com as crianças sobre a morte?
De alguma forma, em algum momento da vida, acaba sendo inevitável não se deparar com a morte. Mas e quando é preciso dar a notícia a uma criança? Dizer que é necessário conviver com a ausência e perda de alguém amado?
O ser humano é acostumado a idealizar o mito da “criança feliz”, aquela que não pode sofrer de forma alguma, e esse mito cai por terra quando é preciso contar a uma que seu ente querido não está mais aqui, que seu ente querido morreu.
Com todo o cuidado e acolhimento, é preciso chegar para a criança com a informação clara e sem rodeios, sem trocas de palavras. “Evite dizer que o ente querido está dormindo ou que está viajando. Não vamos conseguir convencer nenhuma criança disso por muito tempo. Com o tempo a verdade vem à tona, deixando-a confusa, desconfiada e entendendo a morte não como algo natural, mas sim, triste e proibido, de que as pessoas não gostam de falar”, esclarece a psicóloga do Grupo Morada, Mariana Simonetti.
Segundo a especialista, é preciso dizer para a criança o que realmente aconteceu, sem precisar se ater a detalhes acerca da situação ou causa da morte. “Diga que o ente querido morreu. Talvez ela não entenda exatamente, mas, com a sua ajuda, vai entender do jeito dela”, reforça.
O entendimento da criança sobre a morte vai evoluindo de acordo com sua idade. Crianças muito pequenas não vão compreender exatamente o que está acontecendo, seu sofrimento se resumirá à saudade, o que aconteceria, inclusive, se ela precisasse passar muito tempo longe dos pais, por exemplo, mesmo não sendo por motivo de morte.
Por volta dos três anos de idade, a criança começa a entender um pouco mais a questão da morte, mas ainda a vê como algo reversível, e então é comum que escutemos dela uma frases do tipo: “quando minha mãe volta do céu?”. Apenas por volta dos cinco anos é que a criança começa a entender um pouco mais sobre a irreversibilidade da morte, mas incialmente acredita que apenas pessoas velhas ou que estão muito doentes morram, o que causa uma confusão grande quando se depara com a morte de um coleguinha ou de alguém mais novo que não tinha uma doença prévia.
“Tenha paciência com a compreensão da criança, respeite a sua fase de entendimento, e tente dizer para ela que depois que alguém morre, nós passamos a ‘falar’ com essa pessoa pelo pensamento, e que sempre que tiver saudade, poderá fazer isso também”, aconselha a psicóloga.
Depois de dada a informação, o que deve ser feito por alguém de confiança da criança, ofereça ajuda. Abrace-a, se ela quiser ser abraçada; brinque, se ela quiser brincar. A forma que a criança tem de expressar sofrimento é bem diferente da do adulto, por isso não estranhe se ela quiser chamar algum amiguinho para brincar ou simplesmente se quiser ir para a escola “como se nada tivesse acontecido”. Deixe que ela viva sua dor ao seu modo, tendo o cuidado de avisar aos atores que vão interagir com a criança nos próximos períodos sobre o que aconteceu para que todos estejam prontos para ajudá-la, caso necessário.
Mas também é importante observar o comportamento da criança. Muitas vezes os pequenos têm uma forma bem peculiar de demonstrar sofrimento: eles podem perder o apetite, ou simplesmente passar a comer demais; podem começar a ter dificuldade para dormir, ou apresentar sonolência excessiva; o choro fácil e sem motivo aparente, bem como as reações exageradas também devem ser considerados.
O luto da criança deve ser observado de perto. Então, fique próximo, disponível para perguntas. E caso perceba que algo, de alguma forma, está fugindo ao seu controle, peça ajuda de alguém para dar suporte profissional à criança. É preciso oferecer cuidado e atenção nesse momento de sofrimento, para que ela possa superá-lo e voltar mais forte para os diversos desafios que enfrentará na vida que só está começando.