Dor dos pais: o recomeço depois da perda de um filho
Todos nós já experimentamos a perda de alguma forma. Seja a perda de alguém amado, de um emprego, de dinheiro, ou de amigos, a perda é um evento que pode nos ferir profundamente, podendo provocar sentimentos de dor, ausência e vazio. De certa forma, todos já passamos por essa experiência em algum momento. Mas o que dizer quando os pais perdem um filho? Essa dor é especialmente intensa, pois inverte o ciclo natural da vida, onde “os filhos enterram os pais”.
Como lidar com a perda de um filho?
Diante dessa inversão do ciclo natural da vida, como uma mãe ou um pai pode lidar com a perda repentina de um filho? E, principalmente, como reconstruir a vida e superar a dor dessa perda tão profunda? Em entrevista ao site “Assuntos de Psicólogo”, o professor e psiquiatra Geraldo Ballone afirma que “a perda de um filho é a maior frustração que pode acontecer a alguém”.
Segundo ele, não há uma fórmula mágica para lidar com o luto ou com as perdas. “A dor específica pela morte de um filho representa a perda de uma parte de nós mesmos, algo que sabemos ser definitivo e irreversível. Muitas vezes, nem sabemos se a parte que ficou é maior ou menor do que aquela que se foi”, explica Ballone.
Enfrentando a maior frustração
Ballone observa que todos experimentamos frustrações ao longo da vida, desde as mais leves até as mais profundas. “A perda de um filho é a maior frustração que pode acontecer a alguém, é um golpe fatal no destino desejado. É ainda mais doloroso porque contraria a ordem natural da vida, onde os filhos deveriam enterrar os pais, e não o contrário”, disse.
Caminhos para a superação
Para superar essa dor, Ballone destaca que não há mágica nem mistério. “É um processo que exige muito esforço, tijolo por tijolo, pedra por pedra. Quem enfrenta dificuldades nesse percurso pode buscar ajuda de várias maneiras: terapia, psiquiatria, ajuda espiritual, e o apoio de pessoas queridas. A medicina, através da psiquiatria, é apenas uma das formas de apoio, indicada principalmente quando estados profundos de depressão impedem a pessoa de recomeçar, drenando toda a energia necessária para continuar vivendo”, afirma.
Vivenciando o luto
Ballone ressalta que vivenciar o luto é uma contingência obrigatória diante das perdas. “Aprende-se a viver apesar dessas perdas, mas esquecê-las, ninguém esquece. A qualidade da vida emocional jamais será a mesma. Este é o ônus doloroso e silencioso que todos estamos sujeitos a pagar pela vida em sociedade. Em algumas sociedades, esse ônus é mais frequente e maior”, observa ele. O especialista também menciona a violência e outras questões sociais que causam mortes e sugere o engajamento em ONGs como uma forma de superar a perda.
O poder do perdão
Ballone também enfatiza que o perdão pode ajudar no processo de luto. “O perdão sempre faz bem à alma. É um peso a menos para se carregar pela estrada da vida”, conclui.